A temida extinção em massa da vida selvagem também ameaça bilhões de humanos que dependem deles como alimento e sustento, segundo um novo relatório sobre a perda de espécies publicado esta terça-feira durante a conferência Rio+20.
Especialistas apresentaram um quadro sombrio sobre a biodiversidade do planeta, enquanto é aguardada a chegada de líderes mundiais para uma cúpula de três dias sobre os problemas ambientais da Terra e a erradicação da pobreza.
Das 63.837 analisadas, 19.817 correm risco de extinção, alertaram.
Estão ameaçadas 41% espécies de anfíbios, 33% de corais construtores de recifes, 25% de mamíferos, 20% de plantas e 13% de aves, destacou a última versão da respeitada “Lista Vermelha” (Red List).
Muitas são essenciais para os humanos, fornecendo comida e trabalho e uma piscina genética para melhorar cultivos e desenvolver novos medicamentos, acrescentou.
As descobertas são “um chamado estridente aos líderes mundiais que se reúnem no Rio para proteger a rede da vida neste planeta”, disse Julia Marton-Lefevre, diretora da União Internacional para Preservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que compila os dados.
“Oitenta por cento da nossa ingestão de calorias vêm de 12 espécies de plantas”, disse o professor Stephen Hopper, chefe dos Jardins Botânicos Reais em Kew, Londres.
“Se nós ligamos para a comida que ingerimos, para os remédios que usamos, precisamos agir para preservar nossas plantas medicinais e nossos cultivos”, acrescentou.
Espera-se que 100 chefes de Estado e de governo assistam à cúpula da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, prevista para começar na quarta-feira no Rio de Janeiro.
Amplamente respeitada, a Lista Vermelha observa em detalhe uma pequena proporção das espécies conhecidas no mundo de forma a dar um panorama sobre a saúde da biodiversidade.
Nas Metas de Desenvolvimento do Milênio, membros da ONU prometeram conter a taxa de perda de espécies em 2010, mas fracassaram em alcançar a meta.
Após este fracasso, estabeleceram um “plano estratégico para a biodiversidade”, segundo o qual prometeram evitar a extinção das “espécies mais conhecidas”.
A Lista Vermelha aponta espécies relacionadas a uma entre oito categorias.
Das 63.837 espécies avaliadas em seu novo informe, 27.937 foram “de menos preocupação” ou “quase ameaçadas”, enquanto 255 foram consideradas em “menor risco”.
Outros 3.947 estavam em risco crítico, 5,766 em risco e 10.104 estavam vulneráveis, totalizando 19.817 espécies ameaçadas.
Sessenta e três por cento se tornaram extintas na natureza e 801 desapareceram completamente. As 10.497 espécies remanescentes na pesquisa não têm dados disponíveis para fazer um julgamento.
O ‘Pleurobema perovatum’, molusco de um rio americano, está entre as quatro espécies que se somaram tristemente à lista dos extintos, segundo especialistas da Lista Vermelha.
A boa notícia, no entanto, é que as duas espécies, incluindo um anfíbio chamado ‘Discoglossus nigriventer’, que só é encontrado no lago Hula, foi redescoberto.
A perda de espécies frequentemente resulta da destruição do hábitat. Mas espécies invasivas e, de forma crescente, o suposto impacto das mudanças climáticas, também são fatores.
O relatório lançou luz sobre a exploração irresponsável de oceanos, lagos e rios.
“Em algumas partes do mundo, até 90% das populações costeiras obtêm grande parte de sua comida e ganham sua primeira renda através da pesca. No entanto, a sobrepesca reduziu alguns estoques pesqueiros em até 90%”, alertou o IUCN.
Segundo a organização, 55% dos recifes de corais do mundo, dos quais dependem 275 milhões de pessoas para se alimentar, para proteção costeira e seu sustento, são alvo da pesca predatória.
Na África, 27% dos peixes de água doce são considerados ameaçados, enquanto na Ásia, espécies comerciais importantes como ‘Tenualosa thibaudeaui’ estão vulneráveis,.
Insetos, morcegos e aves que polinizam plantações fornecem um “serviço ambiental” a humanos de mais de US$ 200 bilhões por ano.
Mas 16% das borboletas endêmicas da Europa e, em todo o mundo, 18% dos morcegos estão ameaçados.
A Lista Vermelha é atualizada a cada ano ou mais.
Fonte: EcoDebate