O diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner, falaparticipou na noite de ontem (16) de um "Diálogo sobre Economia Verde", com representantes do Grupo de Articulação (GA) do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Cúpula dos Povos, que reiteraram suas críticas ao conceito proposto pelas Nações Unidas para atribuir valor econômico aos recursos naturais.

 

Durante o debate no Aterro do Flamengo -- aberto ao público --, o especialista em biodiversidade do Grupo ETC, representante do GA, Pat Mooney, apontou os riscos de agravamento da concentração de riquezas com o modelo defendido pelo Pnuma. "Em 1992, as 10 maiores empresas de sementes detinham 25% do mercado desse mercado; 20 anos depois, três delas -- DuPont, Monsanto, Syngenta -- dominam 52%", afirmou. Na opinião dele, o próximo alvo dos mercados é a captura da biomassa terrestre, com impacto direto para comunidades indígenas, de camponeses, entre outros atingidos. Pablo Sólon, diretor da Focus and Global South, destacou o caráter especulativo da economia verde e citou exemplos dos danos gerados pelo controle econômico sobre a gestão dos recursos naturais. Na Austrália, por meio dos direitos privados sobre as fontes de água; e, em Israel, no uso da água como instrumento político contra o povo palestino. "Precisamos continuar crescendo? Não. Precisamos distribuir a riqueza; e a economia verde não fala em distribuição."

 

Larissa Packer, do grupo Carta de Belém, criado por organizações e movimentos sociais que atuam com uma perspectiva crítica à mercantilização da natureza, defendeu as experiências que vêm sendo desenvolvidas pelas comunidades de vários povos. "Por que a ONU, como espaço multilateral, não se abre a essas alternativas?", questionou. Para o presidente da CUT, Artur Henrique, a economia verde é uma falsa solução porque não altera os modelos atuais de produção e distribuição, que estão na raiz da crise global. Criticou também a falta de mecanismos participativos para inserir os trabalhadores no debate do novo modelo de desenvolvimento, e a falta de compromissos com transferência tecnológica no documento que está sendo produzido na Rio+20.

 

Participaram do "Diálogo sobre Economia Verde" no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro: Achim Steiner, diretor-executivo do Pnuma, e Hamish Jenkins, da NGLS (UN Non-Governmental Liaison Service), pelas Nações Unidas; e, pelo Grupo de Articulação do Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Cúpula dos Povos: Artur Henrique, presidente da CUT; Edwin Vasquez, da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica); Fátima Mello, da Fase; Juan Herrero, da Via Campesina; Kika de Bessen, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen); Larissa Packer, da Carta de Belém; Pablo Sólon, diretor da Focus and Global South; Pat Mooney, do ETC Group.