O discurso que a presidente Dilma Rousseff fez hoje na Rio+20 reflete uma visão divorciada da realidade. Enquanto ela falava sobre “coragem”, “ambição”, “responsabilidade” e “urgência”, o documento aprovado ontem pelos mais de 190 países representados na conferência está vazio de metas, compromissos e ações.
Ela encerrou seu discurso dizendo que “as futuras gerações aguardam nossas decisões”. Após esta conferência, elas terão provavelmente de esperar ainda mais. Esse processo foi criado para uma nova negociação começar em 2015 – e o planeta, que já vive consequências das mudanças climáticas, ameaça à biodiversidade e sob desigualdade crescente entre os povos, não pode esperar mais.
Ela celebrou a redução do desmatamento que a lei brasileira permite, esquecendo que o novo Código Florestal – aprovado em sua administração - promove anistia a criminosos ambientais e a destruição de nossas florestas. Ela exaltou a matriz energética limpa do Brasil, enquanto o Plano Decenal de Energia direciona investimentos do setor para o pré-sal, carvão, nuclear e megahidrelétricas na Amazônia – a despeito do enorme potencial de vento e Sol disponível no país.
O divórcio entre a visão de Dilma e o que aconteceu na conferência se refletiu inclusive na fala do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon. Ele abriu seu discurso reconhecendo que os esforcos dos países não responderam aos principais desafios da Rio+20.
Quando aquela que deveria indicar a direção para o futuro que queremos admite, em sua fala, que considera como grande vitória da Rio+20 não retroceder as decisões tomadas 20 anos atrás, ela está olhando para o passado, e não para o futuro. Como disse Ban Ki-Moon, estamos correndo contra o tempo.
A dois dias do fim da conferência, não é hora de discursos vazios. Se ela deseja tornar seu discurso verdadeiro, é hora de agir com responsabilidade, urgência, coragem e ambição.
Fonte: Greenpeace