Negociações do texto final da Rio+20 avançam pela madrugada. O relógio já batia quase 2h da madrugada quando se ouviu aplausos no gabinete do ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores), momento em que ele revisava o texto final da Rio+20. Meia hora depois, já com a presença da ministra Izabella Teixeira, Patriota anuncia que o documento estará liberado a partir das 7h da manhã. A espera pelo anuncio foi frustrante: apenas às 10h30 haverá reunião na plenária para discutir o texto, o que pode indicar falta de acordo.

Negociadores vararam a madrugada para tentar fechar o texto do documento antes da chegada dos chefes de Estado e de governo, na quarta-feira. O impasse girava em torno da data das negociações. O governo brasileiro quer logo fechar um acordo, mesmo que diluído. Pelo que foi anunciado agora a pouco, conseguiu. Agora, texto será submetido aos chefes de Estado na reunião de alto nível.

Na tarde dessa segunda-feira, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo havia anunciado que essa será “será uma longa noite”: “O tempo regulamentar terminou com o fim do comitê preparatório [16]. Estamos na prorrogação, que nunca tem o tempo mais longo que o tempo permitido. Temos de fechar o texto antes da chegada dos chefes de Estado [e governo]”, disse o embaixador, referindo-se às reuniões de cúpula, que vão de 20 a 22 de junho.

As últimas notícias sobre o documento dão conta de que a mudança do status do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) provavelmente não será decidida dessa vez, na Rio+20. Por falta de acordo (o Brasil e os EUA são contra), chegou-se a afirmar no documento que o PNUMA será “fortalecido”, mas sem qualquer definição sobre como isso será feito. Na prática, mais uma decisão postergada para depois da conferência.

Como sempre, a maneira de implementar os objetivos do desenvolvimento sustentável não tem definição. Para chegar a diretrizes claras é preciso dinheiro e transferência de tecnologia. É aí que a oposição norte-sul vem à tona. Os países do G77 (grupo de países em desenvolvimento)
querem manter a noção de responsabilidade comum, mas diferenciadas. O que significa dizer que a conta a ser paga é dos países ricos.

Os países ricos, por sua vez, mergulhados em crise econômica, vetarão qualquer iniciativa que signifique aumento dos seus próprios gastos. Afinal, os países do G77 pediram nada menos do que 30 bilhões de dólares ao ano para um fundo que financiará o desenvolvimento sustentável. As chances de que tal fundo saia do papel são miseráveis. No precipício do euro, a União Europeia não tem fleuma nem visão para nada que não seja o curto prazo.

As dúvidas ainda permanecem. O Itamaraty havia prometido para a noite de segunda-feira a entrega do texto. Aproximadamente 400 pessoas ficaram esperando. Às duas e meia o ministro anuncia, rapidamente, que o texto estará disponível de manhã. É esperar amanhecer para conhecer o conteúdo.

Por Daniele Bragança

Fonte: O ECO