Por Márcio Santilli*, coordenador de Política e Direito Socioambiental do ISA
O governo dos EUA confirmou ontem que a sua delegação para a Rio+20, composta de doze pessoas, será chefiada pela secretária de Estado Hillary Clinton. E que, portanto, confirmando impressões anteriores, o presidente Barak Obama não se fará presente.
Já se sabia que ele não perderia, como não perderá, grandes coisas, pois a agenda da reunião já vinha sendo, há muito, esvaziada. Afinal, em tempos de crise econômica mundial, com centenas de bilhões de dólares voando dali para lá e de lá para ali, para tapar os rombos anônimos produzidos por nossa natureza financeira, os donos do mundo não consideram oportuno discutir o fim do mundo, ou as formas de evitá-lo.
Assim, a ausência do presidente Obama pode ser mais significativa do que a sua desejável presença. Já em plena campanha á reeleição (onde “o que importa é a economia, idiota!”), entre múltiplos pronunciamentos sobre dinheiro, não sobrou brecha para fazer um “h” (como dizemos por aqui), no Rio de Janeiro.
Não que a secretária Hillary não seja uma pessoa relevante, ou que sua presença não seja desejável, mas é que a economia norte-americana, mesmo em crise, é por demais relevante para a muito desejada e necessária solução da outra crise planetária, que depende diretamente da sua imediata (ainda que tardia) ação.
Muitos dirão que não haverá recursos disponíveis para enfrentar a crise climática se a economia permanecer em crise. Mas, ao que parece, mesmo em recessão, EUA e outros continuam aumentando as suas emissões de gases de efeito estufa. Pode ser até que seja o contrário, que a solução da primeira crise dependa do aprofundamento da segunda, com a economia eventualmente rateando ao ponto de reduzirem-se as emissões.
Nos anos dourados da era Clinton, os EUA (Congresso à frente) não lograram ratificar o Protocolo de Quioto (que definiu metas de redução de emissões para os países desenvolvidos), não toparam avançar na CDB (Convenção de Diversidade Biológica) e Clinton reelegeu-se, apesar de escândalos moralistas e de outras peripécias. Obama levantou a bandeira da economia pós-carbono e dos empregos verdes na sua primeira campanha, de uma maneira suficientemente forte para que pudéssemos enxergá-la desde o sul do planeta. Alguém daqui do andar de baixo está conseguindo vê-la na sua segunda campanha?
Meninos e meninas, o tempo está passando, as melhores esperanças numa reação da nossa espécie estão se arrefecendo e quero saber o que Obama pretende dizer para as suas crianças quando elas lhe perguntarem porque perdeu a derradeira oportunidade.
Tomara que ele ainda mande uma mensagem pela senhora Hillary, congratulando-nos pelo sucesso da reunião.
*Márcio Santilli e coordenador de Política e Direito Socioambiental do ISA
Fonte: ISA